“Diversas vezes, enquanto trabalhava com minha moto, eu via casos na rua. Nunca pensei que poderia ser eu um dia ali, no lugar daquelas pessoas. Não podia nem imaginar o que elas estavam passando e iriam passar. Hoje eu sei. É um impacto não só na minha vida, mas na vida da minha família.” Assim, Bruno dos Santos, de 33 anos, resumiu a experiência que vive desde 8 de maio, quando, ao acelerar a moto, foi ao chão e teve a perna amputada.
Confrontado com uma mudança radical de vida, hoje com limitações, Bruno sentiu que precisava conscientizar outros motociclistas. Sua intenção se uniu à do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP) em “Não corra. A velocidade não perdoa” , nova campanha educativa dedicada ao grupo que mais morre no trânsito no país, em circulação a partir desta quarta-feira em todo o estado de São Paulo.
Apenas no ano passado, cerca de 2.500 vidas foram perdidas nas vias e rodovias paulistas por colisões com motocicletas – 43% do total de mortes registradas pelo Infosiga no período. “O mais difícil é aceitar que precisamos das pessoas para fazer as coisas mais simples. Dependo de ajuda da minha esposa, de amigos, de familiares. Meus parentes às vezes precisam dar um auxílio financeiro”, disse Bruno, que precisou parar de trabalhar e encarar a reabilitação depois da lesão.
“Na véspera do acidente, parei para ver um jogo com amigos, cheguei em casa tarde e acordei atrasado no dia seguinte. Para compensar, quis acelerar minha moto. Aqueles minutos que eu pensei que estivesse recuperando, eu, na verdade, perdi para o resto da vida.”
“Esta campanha, diferente das outras, teve início com uma série de grupos de discussão, em que debatemos como atingir o público que os dados mostravam ser o mais suscetível aqui: o de homens jovens”, disse o presidente do Detran-SP, Eduardo Aggio, comentando a estratégia adotada no desenvolvimento das peças. O chamado “ciclo completo” começa com rodadas de entrevista e discussão com grupos interessados, ou focais, para os quais são expostos alguns caminhos possíveis –nesta campanha, foram testadas narrativas que envolviam médicos e música, por exemplo – e junto aos quais são colhidos opiniões e sugestões.
“Vimos que falar do respeito à legislação em si ou do risco hipotético de uma tragédia não causava tanta comoção entre os participantes como tratar das sequelas dos sinistros para o próprio motociclista e para a família”, contou Aggio. “Procuramos assim inaugurar uma nova perspectiva, concreta, para identificar nosso público-alvo, a mensagem e a maneira de torná-la mais eficaz.”
Ao todo, de acordo com Tainá Costa, da Vital Strategies, organização especializada em segurança viária parceira do Detran-SP, foram testados nove vídeos junto aos grupos focais. “Os testes mostraram que histórias reais geram identificação e a culpa e a perda sensibilizam mais esse público, que é ligado na adrenalina da velocidade, o principal fator de risco no trânsito”, afirmou. “Os dados nos dizem quando e onde os casos acontecem, mas é preciso ouvir o público para entender como e por quê. Não era uma questão de puxar a orelha, mas de levar a pessoa a parar e pensar na sua conduta.”
Mais adiante, ao fim da veiculação da campanha, o ciclo se fechará com a realização de uma pesquisa quantitativa, para saber se as pessoas lembram das peças. As percepções colhidas servirão de aprendizado para novas iniciativas. Até lá, fica no ar, na TV aberta, rádio, internet, jornais de grande circulação e mobiliário urbano, a mensagem da ação, “10 km acima do limite. A diferença entre a vida e a tragédia”. Ressoando o recado do próprio Bruno dos Santos. “Não vale a pena aquele minuto em que a gente acelera, aquele farol que a gente fura. Não vale a pena.”
“A vida real gera credibilidade. Por isso, mais importante do que ter um ator, era ter um personagem real, que tivesse vivido essa experiência de uma tragédia provocada pela velocidade”, contou Danilo Moraes, diretor criativo da Babel Asas, agência de publicidade responsável pela campanha, ao explicar a escolha de Bruno, como personagem principal.