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Estudo recomenda avaliação de risco integrada para doenças transmitidas por animais infectados e vetores

Síntese de trabalhos publicados sobre risco de doenças emergentes aponta que apenas 7,4% incluem simultaneamente perigo, exposição e vulnerabilidad...

03/08/2025 17h12
Por: Redação Fonte: Secom SP
Pesquisadores fizeram um levantamento que chegou a 312 estudos publicados sobre o risco de transmissão para 39 patógenos e doenças
Pesquisadores fizeram um levantamento que chegou a 312 estudos publicados sobre o risco de transmissão para 39 patógenos e doenças

Estudo publicado na revista One Earth aponta que as avaliações de risco para doenças transmitidas por animais infectados (zoonóticas) e por vetores (como mosquitos) precisam ser unificadas e integradas. Ações nesse sentido poderiam ajudar a prevenir essas moléstias, cuja ocorrência tende a aumentar por causa das mudanças climáticas.

O trabalho foi liderado por pesquisadores do Núcleo de Análise e Síntese de Soluções Baseadas na Natureza ( BIOTA Síntese ), apoiado pela Fapesp no âmbito dos Centros de Ciência para o Desenvolvimento ( CCDs ).

Sediado no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo ( IEA-USP ), o centro conta ainda com pesquisadores da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo ( Semil ) e de outras universidades e organizações do terceiro setor.

Os pesquisadores fizeram um levantamento que chegou a 312 estudos publicados sobre o risco de transmissão para 39 patógenos e doenças. Apenas 7,4% dos estudos incluem os três componentes de risco, que são perigo, exposição e vulnerabilidade.

“Não há uma padronização nos estudos realizados. O risco de transmissão de uma mesma doença, por exemplo, pode ser avaliado apenas com base na abundância de mosquitos vetores em um estudo, enquanto outro leva em conta a exposição humana a esses organismos. Essa falta de uniformidade compromete a produção de modelos confiáveis e precisos, que poderiam orientar políticas públicas voltadas à identificação precoce de áreas de risco”, ilustra Raquel Carvalho , primeira autora do estudo, realizado durante pós-doutorado com bolsa da Fapesp no IEA-USP.

O artigo apresenta recomendações para estruturar esse campo de pesquisa, em rápida expansão, no contexto das mudanças ambientais. As orientações destacam a necessidade de maior atenção à exposição e à vulnerabilidade, com a definição de indicadores específicos para cada uma. Recomenda também o redirecionamento dos financiamentos internacionais de pesquisa e o fortalecimento da cooperação internacional, a fim de apoiar os esforços científicos voltados às doenças zoonóticas e transmitidas por vetores em regiões tropicais.

Para o trabalho, Carvalho realizou ainda estágio na Universidade de Glasgow, na Escócia. Atualmente, é professora no Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências (IB-USP) e pesquisadora associada ao BIOTA Síntese.

Os resultados do estudo foram propostos ainda ao Plano Estadual de Adaptação e Resiliência Climática ( PEARC ), instrumento que visa estruturar, coordenar e articular a atuação do Estado de São Paulo no enfrentamento dos impactos das mudanças climáticas.

Plano estadual

Nas contribuições ao PEARC, os autores do BIOTA Síntese diferenciam os componentes perigo, exposição e vulnerabilidade às doenças zoonóticas e transmitidas por vetores.

Segundo o documento, que segue as definições usadas no estudo, perigo de infecção ocorre por causa da “presença e/ou abundância de hospedeiros zoonóticos, vetores e reservatórios”. Além disso, leva em conta “presença e/ou prevalência de infecção por patógenos em um determinado espaço e tempo, representando uma ameaça potencial para os humanos”.

Por sua vez, “exposição” é a “probabilidade de contato humano com perigo, determinada pelo tipo, frequência e probabilidade de comportamentos, atividades e outras variáveis relacionadas que modulam o contato com o perigo e podem resultar em infecção por um patógeno zoonótico ou transmitido por vetores”.

Finalmente, “vulnerabilidade” é a “probabilidade de infecção humana, considerando a chance de uma pessoa ou um grupo de pessoas, em um determinado espaço e tempo, serem infectados por um patógeno zoonótico ou transmitido por vetores após a exposição ao perigo”.

Omissão de componentes relevantes pode gerar estimativas imprecisas, resultando na definição de áreas prioritárias irrelevantes
Omissão de componentes relevantes pode gerar estimativas imprecisas, resultando na definição de áreas prioritárias irrelevantes

“Não existe um componente mais importante do que o outro. É a intersecção entre eles que representa o risco geral. Por isso, para estimar adequadamente as áreas de risco, é preciso considerar todos, o que raramente ocorre de forma simultânea nos estudos que realizam esse tipo de avaliação”, explica Carvalho.

Para os autores, a omissão de componentes relevantes pode gerar estimativas imprecisas ou equivocadas, resultando em um planejamento espacial inadequado, como a definição de áreas prioritárias irrelevantes, além de má alocação de recursos e esforços de gestão, o que prolonga a exposição de populações vulneráveis a riscos evitáveis.

Locais com grande densidade populacional humana e muitos casos de dengue, por exemplo, precisariam de mais campanhas de conscientização para evitar a reprodução do mosquito Aedes aegypti e a aplicação de inseticida, por exemplo.

Da mesma forma, é preciso considerar que a simples presença de um patógeno no ambiente não necessariamente significa um alto risco. A presença do hantavírus em roedores silvestres, por exemplo, pode representar um risco menor em áreas rurais, pois a exposição humana aos animais infectados é menos frequente.

Medidas práticas

Na seção que se refere às doenças zoonóticas e transmitidas por vetores das recomendações ao PEARC realizada pelo BIOTA Síntese, além da estruturação de uma avaliação de risco unificada e integrada para essas moléstias, o time de gestores e pesquisadores trata ainda de uma série de medidas a serem aplicadas.

Uma delas é o aprimoramento da avaliação de impacto sobre zoonoses de empreendimentos como condomínios, que atualmente considera apenas a febre maculosa. Outra recomendação visa aprimorar a rede laboratorial para diagnóstico e vigilância ativa em fauna silvestre, além da comunicação, a fim de otimizar o acesso e a disponibilização de informações.

Por fim, os pesquisadores e gestores afirmam a necessidade de fortalecer a racionalidade e a eficiência da distribuição de água. Segundo os autores, há diversas evidências científicas que relacionam doenças transmitidas por vetores, como a dengue, à falta de segurança hídrica.

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