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Exposição explora as diferentes dimensões do tempo e da eternidade no Centro Universitário MariAntonia da USP

Com curadoria de Paulo Herkenhoff, mostra no Centro MariAntonia da USP reúne obras de 11 artistas que refletem sobre um dos conceitos mais intrigan...

20/12/2025 15h16
Por: Redação Fonte: Secom SP
Fontes (1992-2016), obra de Cildo Meireles – Foto: Cecília Bastos
Fontes (1992-2016), obra de Cildo Meireles – Foto: Cecília Bastos

“Quanto tempo o tempo tem?” O crítico de arte e curador Paulo Herkenhoff responde: depende da perspectiva. Na exposição Asa de Chronos, Herkenhoff reúne dez obras de 11 artistas que representam o tempo — não só como o movimento dos ponteiros do relógio, mas também como conceito que atravessa a humanidade. Em cartaz no Centro Universitário MariAntonia da USP até março de 2026, a mostra inclui obras de Ailton Krenak, Cildo Meireles e Regina Silveira.

Nessa exposição, Paulo Herkenhoff — ex-curador-adjunto do Museum of Modern Art (MoMa) de Nova York e curador da 24ª Bienal de São Paulo, realizada em 1998 — buscou reunir obras de artistas que tinham o tempo como tema principal. Para garantir a imersão do público, ele determinou que a sala ficasse em penumbra, com exceção de fortes luzes sobre as obras, ou produzidas por elas.

A Fuga das Horas (2023), de Shirley Paes – Foto: Cecília Bastos
A Fuga das Horas (2023), de Shirley Paes – Foto: Cecília Bastos

É o caso, por exemplo, da instalação Eternidade (2025), dos artistas Sandra Cinto e Albano Afonso. Na parede, a dupla pintou um círculo dourado onde é projetada a palavra “eternidade”. Em frente ao projetor, uma pequena esfera cristalina giratória é usada para simular um movimento de ondas nas palavras.

A peça original foi feita em 2011 como homenagem a um curador brasileiro que havia falecido, para uma exposição em Lisboa. A ideia era trazer o conceito da eternidade, que é imaterial, por meio do elemento não palpável da projeção — estrutura presente nos trabalhos de Albano. Para a obra exposta no MariAntonia, os artistas uniram esse conceito a um elemento recorrente nas obras de Sandra Cinto, o círculo dourado.

Após um projeto que fez na Casa-Ateliê Tomie Ohtake — espaço em São Paulo que promove exposições públicas para preservar o legado da artista nipo-brasileira que morava lá —, Cinto passou a investigar o círculo na tradição budista. Nela, essa forma é interpretada como um elemento sem começo nem fim, algo eterno e, simultaneamente, transitório. A artista ressalta como essa descrição se assemelha ao badalar do relógio, que não para, mas que inicia um novo ciclo quando bate meia-noite.

Instalação “Eternidade” (2025), dos artistas Sandra Cinto e Albano Afonso. Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Instalação “Eternidade” (2025), dos artistas Sandra Cinto e Albano Afonso. Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Já o dourado foi incorporado à sua arte depois de pesquisas sobre como a cor era usada no decorrer da história da arte. “Na pintura bizantina da Idade Média, o dourado era usado como simbologia de um espaço metafísico. Nas chinesas e japonesas, ele também tinha certa conotação espiritual, de transcendência”, explica a artista.

Os trabalhos com luz e projeção de Albano e com cor e forma de Cinto foram unidos para formar a peça, que, apesar do nome, foi feita para acabar. “A obra tem o tempo dela, vai ter um fim. Quando tirar a tomada do projetor, ligar a luz da sala e pintar a parede de branco, ela para de existir”, diz Albano.

Diferente dela, a escultura em bronze que forma frase A Fuga das Horas (2023), de Shirley Paes Leme, continuará depois do fim de Asa de Chronos. Leme trabalha com conceitos não tangíveis em sua arte: ar, fumaça e literatura, por exemplo. Nesse caso, a frase foi tirada de um de seus poemas. “Essa obra usa a palavra porque, depois de falada, ela se esvai, ela some, derrete no tempo”, conta. Para produzi-la, a artista usou água para escrever e congelou-a enquanto derretia. Passou a imagem para o 3D e, em seguida, para o bronze.

“O Guardião da Luz (2020-2022), de Fernando Lindote. Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
“O Guardião da Luz (2020-2022), de Fernando Lindote. Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Também na mostra está a pintura O Guardião da Luz (2020-2022), de Fernando Lindote. Nela, um macaco é retratado em cima de uma árvore, segurando uma vela em meio à escuridão. A tela faz parte de uma série de nove quadros, chamada Homens Evoluem. “Nessa série, a figura do primata se repetia em diferentes posições, mas o personagem sempre tinha o rabo contorcido como o símbolo do infinito”, explica. O conceito da infinitude é usado para representar a resiliência do ser humano. “É essa insistência de segurar a luz num ambiente de trevas ou o esforço deliberado de fazer algo acontecer num ambiente não tão favorável”, continua.

Outro quadro exposto é Ânsia de Infinito… (2023), de Estevão Parreiras. Ele retrata um garoto segurando uma bandeja com dois olhos em uma mão e uma longa folha na outra, imagem inspirada em Santa Luzia. Na história cristã, Santa Luzia era uma mulher de família nobre italiana que havia prometido ao pai permanecer virgem até a morte. Após a morte de seu progenitor, no entanto, sua mãe, muito doente, queria que se casasse com um jovem pagão. Diante disso, Santa Luzia propôs à mãe que fossem ao túmulo de Santa Águeda pedir pela cura da doença. Caso funcionasse – o que aconteceu –, isso seria uma mensagem para não se casar.

“Ânsia de Infinito” (2023), de Estevão Parreiras. Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
“Ânsia de Infinito” (2023), de Estevão Parreiras. Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Ao retornar do túmulo, Santa Luzia foi acusada pelo ex-noivo de ser cristã, o que era ilegal na Roma da época. Por isso, foi perseguida e teve seus olhos retirados pelos torturadores e colocados em uma bandeja de prata. Em uma das versões contadas, assim que seus olhos foram retirados, outros, mais bonitos, apareceram no lugar. “Quando ouvi, amei a história e quis ter minha versão dessa figura. Acabei fazendo o quadro a partir de um personagem já existente nos meus trabalhos, que é esse carinha”, explica Parreiras, referindo-se ao menino-personagem de Ânsia de Infinito… .

Em cima da figura, a frase “Ânsia de infinito…” dialoga com a eternização de Santa Luzia — não apenas no quesito religioso e transcendental, mas no sentido de uma figura continuar no imaginário popular através do tempo, por meio de uma história contada e recontada. Porque o tempo não para.

A exposição Asa de Chronos fica em cartaz até 15 de março de 2026, de terça-feira a domingo e feriados, das 10 às 18h, no Centro MariAntonia da USP (Rua Maria Antonia, 258, Vila Buarque, região central de São Paulo, próximo às estações Higienópolis e Santa Cecília do metrô). Entrada grátis. Mais informações estão disponíveis no site do Centro MariAntonia .

Instalação “Eternidade” (2025), dos artistas Sandra Cinto e Albano Afonso. Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Instalação “Eternidade” (2025), dos artistas Sandra Cinto e Albano Afonso. Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Sala de exposição do centro MariAntonia da USP, onde acontece a exposição “Asa de Chronos”. Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Sala de exposição do centro MariAntonia da USP, onde acontece a exposição “Asa de Chronos”. Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Obra “Infinito Agora, Thalys Dando Linha ao Sonho” (2022), de Paula Trope. Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Obra “Infinito Agora, Thalys Dando Linha ao Sonho” (2022), de Paula Trope. Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
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