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Candidatas à vacina da gripe aviária do Instituto Butantan induzem resposta imune

Candidatos a imunizantes demonstraram ser imunogênicos em modelos animais, em especial envolvendo a cepa A(H5N8), que tem potencial de proteção con...

08/08/2025 23h16
Por: Redação Fonte: Secom SP
Candidatas à vacina da gripe aviária do Instituto Butantan induzem resposta imune

Pesquisadores do Centro Bioindustrial do Butantan produziram e testaram em escala industrial três candidatas à vacina contra vírus da gripe aviária que provocaram resposta imune em modelos animais quando combinadas com adjuvante e oferecidas em duas doses. As conclusões foram publicadas em um estudo divulgado no início de junho na revista Vaccines por pesquisadores do Instituto Butantan, da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Cada candidato vacinal testado tem uma cepa de gripe aviária diferente em sua composição: influenza A(H5N1/ duck/Vietnam), associada à cepa do clado 2.3.2.1c , responsável pelo alto número de casos fatais em humanos, mas de circulação restrita no continente asiático; influenza A(H5N8/Astrakhan), associada ao clado 2.3.4.4b, responsável por um número pequeno de casos fatais em humanos, mas de distribuição quase global; e influenza A(H5N1/Anhui), detectada em aves e que representa uma linhagem entre as cepas circulantes e as cepas que já circularam no mundo para as quais algumas vacinas já foram produzidas para uso emergencial.

No estudo, as respostas imunes se mostraram específicas para cada cepa, havendo pouca ou nenhuma reatividade cruzada. A formulação vacinal com o vírus influenza A(H5N8/Astrakhan) se mostrou imunogênico e mais adequado para os vírus H5N1 do clado 2.3.4.4b, que tem circulado quase globalmente, e foi o responsável pelos recentes surtos de infecção de aves em granjas do Rio Grande do Sul.

Com o título “Produção e Resposta Imunológica Contra Influenza pandêmica: candidatas vacinais de Influenza Pandêmica como Preparação Contra os Vírus da Influenza H5N1 Circulantes” (Production and Immune Response Against Pandemic Influenza Candidate Vaccines as Preparedness Against the Circulating H5N1 Influenza Viruses), o estudo foi feito em diversas áreas do Instituto Butantan, como o Laboratório de Influenza, Produção de Banco Influenza, Controle de Qualidade e Vacinas Bacterianas, em conjunto com cientistas do Instituto de Biologia da Unicamp, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP (campus Pirassununga).

“Na prova de conceito, o antígeno influenza A(H5N8) mostrou ser capaz de proteger contra o vírus A(H5N1) do clado 2.3.4.4b, devido ao fato de ambos apresentarem o componente H5 (Hemaglutinina 5) semelhante ou idêntico. Além disso, o Instituto desenvolveu e produziu em escala piloto o adjuvante IB160, que foi combinado com sucesso com esse antígeno na prova de conceito realizada em modelo animal. O estudo mostrou a necessidade do uso do adjuvante e protocolo de imunização de duas doses da formulação vacinal”, afirma o pesquisador científico e gerente de Desenvolvimento e Inovação de Produtos do Butantan, Paulo Lee Ho, principal autor do estudo.

O Butantan tem capacidade e expertise para fabricar o imunizante pelo fato de ele ser produzido com a mesma plataforma da vacina da influenza sazonal , de vírus fragmentado e inativado, que o Instituto produz anualmente para o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde.

Os resultados do estudo foram base para a submissão de proposta de estudo clínico da vacina para Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), visando um possível uso em caso de pandemia envolvendo vírus H5N1.

“Para o subtipo H5N1 2.3.4.4b , que é bem adaptado e altamente disseminado, com potencial para evoluir para um vírus mais infeccioso, os resultados são promissores o suficiente para prosseguir com as próximas etapas do desenvolvimento da vacina, com a avaliação da segurança e a imunogenicidade em estudos não clínicos e clínicos”, destaca a pesquisa.

Vacina pré-pandêmica

A disseminação dos vírus influenza H5Nx em aves começou a ser notificada em 1996. No entanto, desde 2020 uma linhagem específica, o vírus H5N1 do clado 2.3.4.4b, está se espalhando por todo o mundo em aves, mamíferos e com casos ocasionais em humanos, com exceção da Austrália e da Nova Zelândia. Essa nova onda matou milhões de espécies de aves e mamíferos e provocou novos casos recentes em humanos, demonstrando um alto poder de mutação. No entanto, Paulo destaca que, apesar de ocorrer transmissão ave-ave, ave-mamífero, ave-humano, mamífero-mamífero, mamífero-homem, ainda não se observou uma transmissão de pessoa para pessoa.

Dentro deste contexto, a preparação de uma vacina se torna necessária para mitigar o pior cenário, que seria uma pandemia de gripe A(H5N1) caso os vírus se modifiquem a ponto de serem transmitidos de humano para humano, destaca a pesquisa.

“Os resultados representam um avanço para proporcionar uma resposta local rápida em caso de ocorrência de uma pandemia de influenza A(H5N1) no Brasil, que também afetará os países vizinhos da América do Sul”, ressaltam os pesquisadores no estudo.

“Além disso, demonstram o aumento da capacidade de uma resposta global contra uma doença infecciosa pandêmica, por meio da complementação de vacinas à base de ovos, somando-se a vacinas produzidas por outras plataformas, como RNA e à base de células”, completam eles.

Ciente dessa realidade, o Butantan se antecipou e está se preparando no sentido de ter condições de fabricar uma vacina contra influenza H5N1 em grande escala, se necessário.

“Em caso de pandemia do vírus H5N1 circulante, o Butantan terá capacidade de produção do antígeno e do adjuvante para a formulação da vacina, representando uma autonomia do país na produção dos componentes vacinais essenciais”, afirma Paulo Lee Ho.

Sobre a pesquisa

No estudo, também foi analisada a capacidade do soro de animais imunizados com vacinas formuladas com antígenos de influenza A(H5N8/Astrakhan) em inibir a infecção pelo influenza A(H5N1) selvagem em células permissivas [que suportam a replicação viral]. Este vírus foi isolado em aves infectadas no Brasil e pertence ao clado 2.3.4.4b.

Os vírus candidatos à vacina influenza A(H5N1/Anhui) e A(H5N8/Astrakhan) foram obtidos por meio de parceria com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, e o vírus candidato à vacina influenza A(H5N1/duck/Vietnam) foi obtido do Instituto Nacional de Padrões e Controle Biológicos do Reino Unido (NIBSC).

“As três candidatas vacinais monovalentes (Astrakhan, Duck/Vietnam e Anhui) foram produzidas com Boas Práticas de Fabricação (BPF) em escala industrial no Centro Bioindustrial do Butantan, com controle de qualidade dos antígenos realizado de acordo com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde”, destaca Paulo Lee Ho.

O estudo aponta ainda que a vacina do Instituto Butantan já foi listada pela OMS entre as novas vacinas em desenvolvimento contra potenciais pandemias envolvendo vírus de influenza H5.

Os protocolos experimentais, que incluem as três cepas analisadas, foram aprovados pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal do Instituto Butantan (CEUAIB), e o estudo foi realizado de acordo com as diretrizes do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA).

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