A queda do avião da TAM em 2007, o desabamento do prédio Wilson Paes de Almeida em 2018, no centro de São Paulo, a explosão em uma residência, no Tatuapé, neste ano. O que todos esses casos possuem em comum? Foram analisados por peritos do Núcleo de Engenharia da Polícia Técnico-Científica.
A equipe de 14 peritos criminais, sendo 13 engenheiros e uma bióloga, atende cerca de 3 mil ocorrências anualmente. Eles são responsáveis por elaborar laudos envolvendo 54 naturezas, como acidentes de trabalho, desastres aéreos, incêndios, perturbação de sossego, entre outras. Os agentes também prestam apoio aos 11 Núcleos do Instituto de Criminalística no estado, quando necessário.
Como funciona uma perícia de engenharia?
Com equipamentos como o sonômetro (para medir a pressão sonora), drone térmico e Scanner 3D , os profissionais são capazes de avaliar as condições físicas dos locais onde um crime pode ter ocorrido.
Eles buscam entender a composição dos materiais e o funcionamento de máquinas ou outros objetos envolvidos na ocorrência. “Estudamos o manual também, quando é necessário, para ver a parte de segurança, a aplicação, se estava sendo usado conforme as especificações”, explica o perito criminal Fábio André Massa, que é engenheiro civil.
Os únicos equipamentos que não são analisados pelo Núcleo são os de informática, que passam por perícia em um setor especializado .
Nenhum dia de trabalho é igual ao outro, e os policiais chegam a rodar mais de 300 quilômetros em uma única noite. Além disso, tecnologias como painéis solares e carros elétricos, trazem a necessidade constante de atualização entre os engenheiros.
“Um dos grandes problemas que vão surgir daqui para frente são incêndios nesses veículos. Hoje, o Corpo de Bombeiros está desenvolvendo uma pesquisa para fazer uma normativa e nós estamos com essa parceria com eles. Inclusive, nós fomos fazer alguns testes e temos acompanhado”, afirma o diretor do Núcleo de Engenharia, Maurício Lazzarin, que é engenheiro elétrico.
Para auxiliar nas perícias de delitos envolvendo o meio ambiente, a equipe conta com a bióloga Talita de Cássia Glingani Sebrian.
“A gente faz uma análise prévia nas bases de dados georreferenciados. Eu preciso ter uma noção se vou ter que buscar naquele lugar um rio, um córrego, porque são coisas que a gente vai avaliar com base na legislação para dizer que é uma área de preservação permanente, que poderia ou não ter tido aquela intervenção”, explica a perita.
O tempo para elaborar os laudos varia conforme a complexidade de cada ocorrência. Por exemplo, a explosão de fogos de artifício dentro de uma casa, em novembro deste ano, no Tatuapé, ainda está em análise pelos peritos.
Vestígios são evidências
Os vestígios que servem como evidências da dinâmica dos fatos costumam ser perdidos durante o próprio acontecimento. O mesmo acontece em incêndios ou quedas de aeronaves.
Por meio de pesquisas, a equipe tenta chegar o mais próximo possível de remontar o que ocorreu e como aquele resultado poderia ter sido evitado, apontando as causas e eventuais responsabilidades dos envolvidos. “Nenhum laudo sai sem ter uma base científica forte. Isso é importante para a gente”, reforça o diretor Maurício Lazzarin.
Ao pensar no dia a dia de engenheiros, as pessoas raramente imaginam que esses profissionais podem aliar seus conhecimentos técnicos com a perícia criminal. Apesar disso, os policiais do Núcleo asseguram que as duas áreas caminham lado a lado na busca pela Justiça.
“O curso de engenharia já prepara o profissional a olhar detalhes e dar soluções, analisar falhas, controle, projetos. Acho que isso tem muito a ver com a perícia, porque a perícia também é isso: são detalhes, são minúcias”, avalia o perito Leandro Dias Goulart, engenheiro de produção mecânica e especializado em análises de desastres aéreos.